Sexta-feira, 26 de Março de 2010

 

Habituamo-nos a deixar para segunda vez, ou para segundo plano, os nossos interesses mais prementes.

Ou seja, o nosso bem-estar interior, íntimo. O nosso sentir paz haja o que haja.

Vamo-nos desleixando, para seguir o que os outros querem, ou necessitam, mesmo que isso intimamente nos contradiga.

Por isso, um dia acordamos com um amargo de boca, sem saber porquê.

Depois, vem a tristeza, o alhear dos dias...

Vai embora o carinho que já não conseguimos dar às pequenas coisas.

Sentimos fugir a alegria sã que espreitava a cada momento.

Deixamos fugir os dias, em vez de os deixar fruir.

Depois, ainda, vem alguém diagnosticar isto de cansaço excessivo conducente à depressão. E pronto! Passamos a estar perfeitamente ambientados ao resto das gentes que têm tal coisa. Tal depressão que nós, enquanto felizes por pouco ou coisa nenhuma, nem sabíamos que existia.

Nós temos de tudo, apenas não arranjamos algo para nós. Um algo que gostemos de fazer e nos encha os pulmões… de alegria.

E o tempo vai macerando a dor.

A dor? A dor de quê?

A dor de não nos entendermos. E, se entendemos sempre os outros… esses habituaram-se a ser entendidos. Não se habituaram a entender quem os entendia e sabia, até antes deles, o que se passava.

 

Adeus! Ohhh! Vou tratar-me, porque não quero chegar tarde para mim. Senão pode não sobrar nada de mim, para tratar.



publicado por eva às 00:32 | link do post | comentar

Sexta-feira, 19 de Março de 2010

 

- Pois eu tenho pai e mãe, mas não tenho mais nada.
- Mais nada?
- Não tenho local de nascimento.
- E qual é o problema?
- Não percebes? A identidade não está completa. Todos precisamos de sentir qual a pertença, a relação do próprio com o mundo.
- Não vejo necessidade disso. Somos todos uma parcela de um Todo, todos contribuímos para o conjunto, por mais insignificante que seja o nosso pensamento, as nossas palavras ou as atitudes e acções que desenvolvermos.
- Pois, pois. Mas a nossa identidade só fica completa com um lugar, ou de nascimento ou de ligação sentimental. Ninguém gosta de sentir que não tem um país para registar, para amar, não ter ligação cultural e histórica com um povo. Não saber sequer o que é uma vivência de bairro, de cultura local.
- Queres dizer que falta integração social mais alargada que a da família íntima?
- Nós somos um conjunto, como os da matemática, e temos igualmente regras que nos permitem ampliar o nosso ser em relação a uma vivência pessoal-social.
- Mas podemos ter isso tudo por relação sentimental e não por relação administrativa.
- Pois podemos, mas algo embaraça esse elo quando falta o registo comum.
- Talvez sirva de consolo o lembrar todos os que foram, e são, massacrados por pertencerem a determinada política, ou país, sem, de modo algum, terem tido possibilidade de escolha quanto às atitudes a tomar em casos de conflito.
- Não interessa, há a sensação, ou não há, de elo social comum que ultrapassa o martírio para se fixar no conjunto a que se pertence.
- Resumindo, referes-te à importância do sentimento de exclusão ou de admissão para o equilíbrio do ser.
- Nem mais!


publicado por eva às 00:53 | link do post | comentar

Sábado, 13 de Março de 2010

 

- Oi!
- Viva! Há séculos que não nos víamos, que é feito?
- Não sei, ando por aí sem saber bem como nem para quê…
- Tanto pensar?
- Nada disso. Não consigo é pensar em nada, apenas divagar e repetir o que digo. Ainda não percebi se faço isso para me ouvir, em vez do silêncio, ou se falo repetido porque não consigo dizer apenas uma vez!
- Hã?
- Parece estúpido, não é? Mas tem sido assim ultimamente. Parece que falo para mim e para outrem, que nem sei quem é. Ou, se quiseres, falo eu e o meu eco.
- Já ouvi dizer isso…
- E o que é, afinal? Tem diagnóstico ou posso considerá-lo tique, mania ou algo assim?
- Algo assim… Ou seja, pode ter a ver com a concentração, ou melhor, com a falha desta. Experimenta concentrar-te mais, sobretudo nas pequenas coisas.
- Olhar com olhos de ver!
- Nem mais. E logo percebes se vais melhorando de tudo o que disseste.
- Interligas tudo?
- Relaciono tudo com falha de concentração – uma razão que muitos desprezam e que vem sendo o pão-nosso de cada dia.
 


publicado por eva às 18:10 | link do post | comentar

Sexta-feira, 5 de Março de 2010

 

As noites e os dias sucedem-se como sempre, sem interrupção e sem qualquer mudança.
- E porque não deveria ser assim?
- Porque ‘tou triste, triste.
- Porque não tentas alegrar-te, em vez de repetires a tua tristeza. Não sabes que assim a interiorizas ainda mais, em vez de a substituíres por alguma emoção melhor?
- ‘Atão não sei! Mas… e conseguir isso? Não é fácil, não…
- Ninguém falou nunca que era fácil, antes pelo contrário. A questão é querer, desejar, que essa tristeza passe. E já agora, estás triste porquê, pode saber-se?
- Porque não consigo ser nada do jeito que quero. Não consigo ser melhor, ser amável com os outros e porque gostaria – ah! gostaria muito mesmo! – de sentir essa paz que falas.
- Essa paz tem dias que vem, tem outros que não está e outros ainda que está simplesmente em nós.
- Qual é o segredo?
- Não é nenhum. É como a luz que é branca de origem e nós podemos ver todas as colorações possíveis, em qualquer dia e a qualquer hora. No entanto, tudo pode ser útil, se não cairmos das experiências abaixo e nos soubermos erguer com mais humildade, integridade e fraternidade que antes.
- Então tudo pode ser considerado exames a passar?
- No meio dos problemas, ou situações, não é fácil lembrarmo-nos disso, mas assim que possível, deveríamos conseguir clarear o pensamento e tomar a situação como algo útil para a caracterização da nossa ética, ou seja, da nossa identidade em nós.
- E tornamo-nos melhores?
- Infelizmente, nem sempre. Mas a ideia é precisamente educarmo-nos com tudo o que nos acontece, como se a vida fosse um curso com exames e tudo.
 


publicado por eva às 20:38 | link do post | comentar

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