Há muito tenho estado ausente daqui. São muitas coisas durante nossos dias que dificultam o alinhamento e comprometimento. Até mesmo meu blog pessoal está sofrendo com isso, mas tenho tentado e logo as coisas ficarão melhores. Assim, deixo aqui um texto já publicado em meu blog, como sinal de minha "ausente presença" por aqui.
Grande abraço a todos!
* * *
Meu amor tem os mais amáveis, desejáveis e inexplicáveis sorrisos, únicos em suas formas e nos seus doarem-se; suficientes para contestar-me a existência e colocar-me no mais alto e sagrado dos altares.
Meu amor apresenta-se em um existir que flutua magicamente pelo meu mundo e que entranha-se pelos cômodos da minha existência, pulverizando-se em inesquecíveis e inexplicáveis aromas por todo meu todo, tocando cada canto escuro meu, pondo-me a contestar o meu próprio ininteligível e inexplicável ser.
Meu amor me lança um misterioso e desejável olhar que me suplica e me condena. Olhar este que me atravessa pelas mais espessas e rijas defesas e vê, em mim, aquilo que nunca nem eu soube ou saberei.
Meu amor ouve de mim os mais secretos suspiros, aqueles que à ninguém dou o merecimento e dignidade de notar, para, simplesmente, a minha integridade e essência manter, e disso se beneficia a me conhecer, para a mim sentir e julgar.
Meu amor canta sua doçura para que a mim possa se permear, cada vez mais e as feridas todas conhecer, e nelas tocar quando se irritar ou diminuído me quiser; delas limpa o sangue, sem as cicatrizar, para que delas possa, um dia ou momento, se valer quando convir ou, simplesmente, se fazer presente e cúmplice a mim.
Meu amor conhece os meus cheiros e todas suas razões para que a mim possa governar em sua vontade e a mim possa acolher em seu desejar secreto e, acima de tudo, fazer-se parte de meu existir.
Meu amor saboreia-me como um fruto maduro, prestes a desprender-se de seu caule e ao chão dedicar-se sua podridão, de forma que neste momento possa se mostrar presente feito medicina garantida à eternidade de nossa existência, por seus lábios sedutores e aniquiladores daquilo que tanto lutei para ser – sem ao menos saber se a pena valeria.
Meu amor é cruel e destemido em seu querer para si, e de mim tira todas as forças para sigo próprio, sem questionar ou relevar as dores que a mim se apresentam por todo o meu dia.
Meu amor tem dúvidas de si para comigo, para consigo, por mim e para conosco, as quais planto sem ciência e desejo, mas das quais tento resolver para que a mim se apegue, por confiança e merecimento, o meu amor.
Meu amor é único e querido a mais que mim mesmo, mas ainda não sabe – e nunca saberá, pois nunca conseguirei dizer – o quanto caminhei e lutei, nem quanto me quebrei e me acabei para encontrá-lo; menos ainda sabe que isso nada significa diante ao tudo que posso – e sei que preciso – fazer para mantê-lo assim, amor meu!
Por Rafael Castellar das Neves
Atingido fatalmente pelo raio do trovão
chamuscou-se o músculo do meu peito
como marca dos deuses num seu eleito
por crimes atrozes sem direito a perdão
Mortal fiquei e com mancha no coração
à vontade dos divos eternamente sujeito
afinal, eu fiz a cama onde hoje me deito
e o que vivo, do que fiz, é vil retaliação
Conheço todos os pecados que perpetrei
distingo bem todas as falhas que obrei
de todos, sou o primeiro em penitência
A razão de cada pecado apenas eu a sei
amargo foi o sabor que de todos provei
afinal cada acto tem a sua consequência
Amor é fogo que arde sem se ver
há muito tempo que eu oiço dizer
e ainda não sei se hei-de acreditar
o fogo queima, sinto o corpo arder
é dor que sinto, nada disto é prazer
por amor ninguém merece queimar
Amor é fogo que arde sem se ver
mas eu vejo o meu coração arder
e a minha alma está a acompanhar
esta dor estou decidido a combater
não vejo quem me possa socorrer
e este incêndio consiga apaziguar
Estou a viver esta vida a cem à hora
hibernado no passado, respiro agora
eras diferentes vividas num momento
preso ao que não tive, apenas memória
a um amor fantasma, triste, sem glória
fantasias nocturnas, ilusões ao relento
Noites perdidas com discursos calados
tanto alma como coração, danificados
gigantesca é esta cicatriz no meu peito
o tempo tudo cura?!! Não senti nada!
A esta ferida purulenta ainda infectada
nenhum antídoto consegue fazer efeito
Grande enfermidade esta que me afecta
virulenta doença que minh'alma infecta
fui corrompido pela maior da moléstias
o tempo tarda em ser médico de serviço
e assim continuo neste estado enfermiço
e de cura, nem há esperança nem réstias
Ó destino traidor, que amor tu me deste
doença mais mortal que a própria peste
que te fiz eu para merecer esta traição?
Acaso serei digno de carregar esta cruz
viver nas trevas, do amor sorver a pus
e ver embalsamares este pobre coração?
Existe um túnel e no fim há uma luz
é a esperança que até lá nos conduz
e cegos, caminhamos passo a passo
olhos vendados, na cabeça um capuz
aceitamos este jogo porque nos seduz
e jogamos animados, sem embaraço
Arrebatados por esta cegueira global
pensamos estar a agir de modo natural
cada um de nós é parte deste rebanho
damos uso ao nosso instinto animal?!
Na tentativa de atingir apenas o frugal
e gigantes são as proezas sem tamanho
Quando abrimos os olhos lamentamos
termos chegado ao lugar onde estamos
arrependidos pelo caminho percorrido
então em desespero só nos queixamos
e com os braços cruzados continuamos
a dar passos em frente no mesmo sentido
Habituamo-nos a deixar para segunda vez, ou para segundo plano, os nossos interesses mais prementes.
Ou seja, o nosso bem-estar interior, íntimo. O nosso sentir paz haja o que haja.
Vamo-nos desleixando, para seguir o que os outros querem, ou necessitam, mesmo que isso intimamente nos contradiga.
Por isso, um dia acordamos com um amargo de boca, sem saber porquê.
Depois, vem a tristeza, o alhear dos dias...
Vai embora o carinho que já não conseguimos dar às pequenas coisas.
Sentimos fugir a alegria sã que espreitava a cada momento.
Deixamos fugir os dias, em vez de os deixar fruir.
Depois, ainda, vem alguém diagnosticar isto de cansaço excessivo conducente à depressão. E pronto! Passamos a estar perfeitamente ambientados ao resto das gentes que têm tal coisa. Tal depressão que nós, enquanto felizes por pouco ou coisa nenhuma, nem sabíamos que existia.
Nós temos de tudo, apenas não arranjamos algo para nós. Um algo que gostemos de fazer e nos encha os pulmões… de alegria.
E o tempo vai macerando a dor.
A dor? A dor de quê?
A dor de não nos entendermos. E, se entendemos sempre os outros… esses habituaram-se a ser entendidos. Não se habituaram a entender quem os entendia e sabia, até antes deles, o que se passava.
Adeus! Ohhh! Vou tratar-me, porque não quero chegar tarde para mim. Senão pode não sobrar nada de mim, para tratar.